Anderson Lima, mecânico de manutenção de aviões da Avianca Brasil; o mercado de cursos que preparam para essa profissão está aquecido.
Apesar de ainda ser uma profissão pouco conhecida, é cada vez maior a procura pelos cursos de manutenção de aviões em São Paulo. Além da média salarial desses profissionais ser atrativa, variando entre R$ 1.500 e R$ 6.000, outro motivo que tem atraído novas pessoas para esta área é a crescente demanda das companhias aéreas por esse tipo de serviço.
Segundo Helio Ferreira, coordenador do curso de mecânico de manutenção de aviões da Edapa Escola de Aviação, houve um aumento em torno de 30% no número de novos alunos matriculados neste curso nos últimos três anos. O mesmo foi observado na Eacon (Escola de Aviação Congonhas), segundo o coordenador Andrei Bertolucci, que destacou um aumento em torno de 20% no número de matrículas para o curso de mecânico de aviões na instituição. Estas são as duas maiores escolas que oferecem este tipo de curso no Estado de São Paulo.
Para ser mecânico de manutenção de aviões, porém, é preciso formação especializada. Além de um curso regulamentado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o interessado na profissão deve também ser aprovado em um exame teórico, aplicado pela própria agência reguladora do setor para obter sua licença.
O curso tem duração média de 30 meses e é dividido em quatro módulos, um básico e outros três técnicos. O módulo básico, com duração de cinco meses, é um pré-requisito para a matrícula nos módulos técnicos, que duram oito meses cada.
“O aluno que completar os módulos técnicos deve comparecer na Anac e prestar um exame teórico para, assim, obter sua licença. Para completar o curso, o aluno precisa ter mais de 18 anos e possuir o segundo grau completo. A mensalidade gira em torno de R$ 280. A escola oferece opções de horário matutino, noturno e de final de semana. A duração da aula é de três horas”, explicou Ferreira. A Edapa oferece o curso de mecânico de manutenção de aviões há 12 anos...
Segundo a Anac, existem três categorias de licenças para mecânicos de manutenção de aviões. A primeira, chamada de CEL (Célula), garante habilitação para trabalhar com todos os sistemas de pressurização, ar condicionado, pneumático e sistemas hidráulicos. Também é nesta habilitação que o profissional vai poder trabalhar na estrutura de aviões e helicópteros em geral, ou seja, a fuselagem da aeronave.
Já a AVI (Aviônicos), garante habilitação para trabalhar em todos os componentes elétricos e eletrônicos de aeronave, inclusive instrumentos de navegação, rádio-navegação e rádio-comunicação, sistemas elétricos e de radar. Por fim, a categoria GMP (Grupo motopropulsor), garante habilitação para trabalhar com todos os tipos de motores de aviação geral (convencional ou a reação), todos os sistemas de hélices e rotores e todos os sistemas dos grupos moto-propulsores.
A agência reguladora explicou, ainda, que o aluno que completar o curso de mecânico de manutenção de aviões em uma das escolas cadastradas pelo órgão deverá ligar na Anac para agendar a prova. O candidato poderá escolher entre uma das três categorias de habilitação, ou todas.
Mercado aquecido
Para Ferreira, apesar do número cada vez maior de pessoas interessadas no curso de mecânico de manutenção de aviões, o mercado está bem aquecido e já há falta de mão de obra. “Esse aquecimento se dá por vários motivos, como aumento da demanda de voos, promoções na venda de bilhetes, tornando o preço acessível a uma fatia cada vez maior da população”, disse. “Com a chegada da Copa do Mundo e das Olimpíadas, esse mercado deve se tornar ainda maior”, completou.
Em geral, quem já trabalha na área diz que só conheceu a profissão por intermédio de conhecidos que também fizeram o curso. Foi o caso de Anderson Lima, que atualmente trabalha como mecânico de manutenção de aviões da Avianca Brasil. “Realmente, é uma profissão que não é muito divulgada. Acabei conhecendo por intermédio de um amigo, fizemos o curso de mecânico de manutenção na Eacon (Escola de Aviação Congonhas). Na época, o curso durou um ano e meio, hoje é um pouco mais”, disse.
No começo da carreira, Lima estagiou na antiga Vasp por três meses, sem remuneração, mas foi contratado logo em seguida como profissional, ficando na empresa até a falência. “Hoje eu trabalho na Avianca Brasil, na parte da aviônica, parte interna do avião, mais especificamente na cabine, toda parte eletrônica e quando necessário faço serviços externos”, explicou.
Lima trabalha seis horas por dia, com folga uma vez por semana, sendo que todo mês ele tem direito a uma folga dupla. A rotina de trabalho do mecânico de manutenção de aviões consiste em testar diariamente todos os instrumentos de voo que estão nas cabines. “O piloto ou comissária reporta algum defeito apresentado durante o voo e eu conserto. Também são feitas manutenções mais completas, chamadas ‘Checks’, dependendo do caso o avião é totalmente desmontado e remontado, para cumprir as exigências da Anac e do fabricante”, afirmou.
Para Lima, o mercado anda meio defasado, principalmente pela falta de divulgação desta profissão. “É um pouco restrito, um colega ajuda o outro a entrar na empresa”, destacou. Sobre os investimentos previstos para a infraestrutura aérea do Brasil nos próximos anos, Lima acredita que “terá de haver muitas mudanças”. Isso porque “será necessário correr contra o tempo (para formar novos mecânicos de manutenção de aviões), afinal não é um curso muito rápido”.
Além disso, o profissional também chama atenção para o fato de o país estar atraindo cada vez mais companhias aéreas estrangeiras, um ponto positivo para quem pretende ingressar neste mercado. “A Avianca é uma das empresas mais antigas no mundo, um nome forte e de mais credibilidade. Novas empresas sempre serão bem-vindas, afinal sempre tem profissional que não está atuando no mercado, e com a concorrência sempre tem mais vantagens para o cliente”, concluiu.
Indústria de aviação no ABC
Embora a região do ABC ainda não tenha nenhuma escola com o curso de mecânico de manutenção de aviões, este cenário pode mudar em um futuro próximo. Isso porque a cidade de São Bernardo irá receber um centro de pesquisa da sueca Saab, fabricante do caça Gripen, que vai demandar um investimento de US$ 50 milhões.
A promessa foi feita pela Saab ao prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), no final do ano passado, durante uma visita de Marinho à Suécia. Cabe lembrar que a companhia sueca está participando do processo de licitação em que o governo brasileiro irá adquirir 36 aeronaves de defesa, em um negócio que deve ultrapassar os US$ 60 milhões.
Junto com a Saab, também participam do processo licitatório a norte-americana Boeing, fabricante do FA-18, e a francesa Dassault, fabricante do Rafale. Estas duas companhias também se comprometeram em fazer parcerias com o município de São Bernardo, caso sejam escolhidas pelo Brasil para fornecer as aeronaves.
*Esta reportagem foi produzida por alunos do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de SP.
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