As bibliotecas são os templos do saber. Em sociedades onde não existem bibliotecas o saber está prejudicado. Evidentemente, bibliotecas apenas existem onde há um acervo de livros, acessível a um público. E quem administra as bibliotecas? Os bibliotecários.
A profissão do(a) bibliotecário(a), também no Brasil, está regulamentada, exigindo-se formação universitária para exercê-la com dignidade.
Ao menos alguns legisladores brasileiros, no passado, tiveram a sensibilidade civilizatória de dar o devido valor aos livros. Estavam conscientes de que os livros devem ser amados, e cuidados com carinho.
Já o Decreto-lei no. 25 de 30 de novembro de 1937, assinado por Getúlio Vargas, organiza a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Pertencem a este Patrimônio cultural brasileiro muitos livros, caracterizados na Lei 5.471 de 09 de julho de 1968, em seu art. 10, que diz: “Fica proibida, sob qualquer forma, a exportação de bibliotecas e acervos documentais constituídos de obras brasileiras ou sobre o Brasil, editadas nos séculos XVI a XIX”. Nesta mesma Lei, dá-se grande valor a bibliotecas, como abrigo de livros e documentos que informam sobre nossa história e preservam nossa cultura.
Como se constata nesta Lei de 1968, já existem no Brasil leis que protegem livros e valorizam bibliotecas. Verifica-se, no entanto, que nem todos os livreiros e políticos zelam adequadamente pela valorização das bibliotecas, e dos profissionais bibliotecários.
O Governo, costumeiramente, abre pouquíssimas vagas para bibliotecários em concursos para escolas e bibliotecas públicas. Pensam os mandatários que qualquer professor, com dificuldades em sala de aula, possa ser deslocado para cuidar daquilo que deveriam ser as bibliotecas das Escolas. Além disto, ainda existem livreiros que continuam contrabandeando livros editados nos séculos XVI a XIX, que falam do Brasil. Estes livros saem do país, provavelmente, porque a Polícia Federal não conhece a Lei, ou porque não dá importância a livros.
Felizmente, agora, o Ministério da Cultura pretende exigir bibliotecas públicas nos municípios brasileiros. Mas, se esta determinação ministerial vai ser respeitada, é outra história. Significa, contudo, um avanço.
Mas a minha intenção, no presente texto,, não é propriamente exaltar o valor imaterial dos livros, e sim falar dos livros como objetos. Livros com páginas que se manipulam, se conservam, se expõem.
A história do livro tem diversas etapas. Na Antiguidade se fala em “bíblia”(livros), palavra grega que deriva da palavra egípcia, que designava o papiro. A designação “livro” vem da palavra latina “líber”, que é a película de madeira que fica entre a casca e o tronco da árvore. Nesta película, originariamente, se pintavam sinais gráficos.
No tempo em que se escrevia em papiro, pergaminho, peles de animais, os textos eram enrolados. Daí se falar que os rolos de “livros” possuíam volume. Hoje se fala em livros como “volumes”, “volumaços”. E a palavra “página” vem do latim “pagus”, que significa aldeia, locais interiores. Estas páginas permitem ir de uma “aldeia” para outra.
Por estas considerações, constata-se que, para chegar ao formato dos nossos livros de papel, transcorreu um longo tempo, e fases interessantes na utilização de material como substrato para a escrita.
Até há poucos anos, nossas bibliotecas conservavam apenas livros impressos em papel. Hoje temos as bibliotecas virtuais, os e-books, textos eletrônicos. Uma verdadeira revolução nos substratos para a escrita, no acesso aos livros e sua conservação. A pergunta que muitos fazem é: esta tecnologia eletrônica substituirá o livro impresso em papel?
Interessante é que pessoas menos avisadas, e entre elas políticos e administradores, argumentam que não é mais necessário comprar livros de papel para formar bibliotecas. Bastariam os livros eletrônicos. Assim já não seriam necessários muitos espaços para bibliotecas, nem muitos bibliotecários e servidores para cuidar dos livros em bibliotecas.
No meu entender, tais argumentos são muito tacanhos. Certo, a eletrônica é uma tecnologia maravilhosa, e não é possível ignorá-la. Toda biblioteca, necessariamente, terá que se informatizar. Mas, a eletrônica apenas é mais um meio para incentivar a leitura. Jamais substituirá o livro impresso em papel.
A conservação eletrônica do livro é muito menos duradoura do que a do livro impresso em bom papel. Pessoalmente possuo alguns livros com mais de 300 anos de idade. No caso eletrônico, o substrato (CD, DVD), a digitalização, e outros recursos, conservam-se apenas de 5 a 10 anos.
A leitura do livro em papel é bem mais cômoda. Para voltar a uma página anterior, basta virar a página. No livro eletrônico, para o mesmo processo, exigem-se várias manipulações. Assim poderíamos enumerar muitas outras vantagens do livro em papel. Não me parece necessário fazê-lo aqui. Pois, não há nenhum perigo de as bibliotecas virtuais, os e-books, no futuro, simplesmente substituírem o livro tradicional, da mesma forma como a TV não substituiu o rádio, nem acabou com o cinema.
Desta forma, parece-me que, querer formar bibliotecas somente com livros eletrônicos, demonstra uma grande ignorância. Sem dúvida, o livro impresso em papel ainda terá um longo futuro. O livro eletrônico é mais um instrumento de leitura, mas não substitui o impresso.
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