Numa Casa que se notabilizou por deputados distritais que guardam dinheiro de origem ilícita nas meias, na bolsa ou na mochila, dois funcionários de empresa terceirizada deram um exemplo de cidadania. Brigadistas contratados para cuidar da segurança dos parlamentares, visitantes e servidores encontraram e devolveram um envelope com R$ 2 mil em cash, valor correspondente ao salário que recebem por um mês de trabalho. O dono da grana: o presidente da Câmara Legislativa (Distrito Federal), deputado Patrício (PT).
O pacote com as cédulas e contas em nome do petista estava em cima de um caixa eletrônico na agência do Banco de Brasília (BRB) na Câmara. Empregados da empresa WMed UTI Móvel, que presta serviços à Casa, Neylon José Lobo e Gilberto Carvalho Campos pegaram o envelope, verificaram o conteúdo e entregaram tudo à Coordenação de Polícia Legislativa (COPOL). Patrício recebeu o dinheiro e os documentos integralmente. Foi, assim, que o distrital soube que quase saiu no prejuízo. Possivelmente um transeunte não teria a mesma iniciativa de entregar ao respectivo dono aquele dinheiro dando sopa.
Patrício relata que um assessor sacou os recursos para pagar despesas em atraso e acabou perdendo o dinheiro. Seria para quitar a mensalidade da faculdade das filhas de Patrício, segundo conta. Para um chefe do Poder Legislativo, R$ 2 mil podem nem significar tanto. Com um salário de R$ 20 mil, o deputado teria um desfalque compensável em pouco tempo, principalmente com os salários extras que os distritais recebem no fim do ano.
A postos
Neylon e Gilberto têm uma remuneração de R$ 3 mil. Na Câmara, eles exercem uma atividade semelhante à dos bombeiros. Com descontos no contracheque, eles recebem aproximadamente R$ 2,4 mil, de acordo com informações registradas na empresa. O dinheiro encontrado representaria, então, um 14º salário que os brigadistas — diferentemente dos distritais — não têm. O Correio tentou localizá-los ontem, mas eles estavam no dia da folga.
Patrício avalia que os dois são um exemplo a ser seguido e garante que o dinheiro faria muita falta para ele. “Tenho contas vencidas e meu limite de cheque especial está estourado”, diz. “A gente acaba ficando surpreso com esse tipo de comportamento porque hoje em dia as pessoas honestas parecem ser exceção”, acrescenta. Para o petista, o sistema de monitoramento da Casa também pode ter contribuído para a boa ação. Segundo o distrital, a nova sede tem câmeras de vídeo espalhadas por todos os andares do prédio. Ele não quis comentar, no entanto, se esse é um modelo de honestidade no qual os próprios deputados deveriam se espelhar. “Os deputados já seguem esse exemplo. Não?”, questionou.
Ana Maria Campos
Correio Braziliense
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