Muito antes do público reagir aos gritos às ofertas de “Quem querDinheiro?” feitas por Silvio Santos, o apresentador mais debochado da história da televisão brasileira, Chacrinha(1917-1988), provocava o auditório com uma proposta: “Vocês querem bacalhau?”, e jogava imensas postas do peixe na direção de sua audiência.
Seu palco era um carnaval. Ele vestia fantasia, usava uma buzina para “gongar” os calouros que se apresentavam ao vivo, e… havia as Chacretes! Precursoras das Panicats, Angeliquetes e das Paquitas da Xuxa , elas eram um time de jovens e belas assistentes de palco com personalidade própria e codinomes exóticos que o próprio Chacrinha escolhia: Índia Potira, Rita Cadillac, Gracinha Copacabana, Cléo Toda Pura.
Ao longo dos 32 anos que ficou no ar, dos anos 50 ao fim da década de 80 – entre TV Tupi ( Discoteca do Chacrinha), TV Rio, TV Bandeirantes e Rede Globo (onde ficou de 1970 a 1988, à frente da Discoteca do Chacrinha, Buzina do Chacrinha e Cassino do Chacrinha) – Chacrinha batizou e dividiu o palco com 500 Chacretes. Caracterizadas com figurino condizente com a ‘personagem’ que interpretavam – o que só mudou quando a Globo deciciu pasteurizá-las e passou a vestí-las todas com o mesmo maiô laminado -, elas eram celebridades. Arrancavam suspiros de muitos marmanjos e levavam centenas de fãs para a porta das emissoras, à espera de um olhar, um beijo roubado ou um autógrafo. Alguns davam mais sorte: o craque Garrincha namorou a Chacrete Lucinha Apache .
Por Chacrinha elas nutriam um sentimento de família. Após a morte do humorista, cada uma foi pelo seu caminho. Muitas levam uma vida comum, longe dos holofotes, como é o caso da Fátima Boaviagem , que é cozinheira em um bar na região serrana do Rio de Janeiro. Outras ganharam as notícias por se meter em encrenca, caso da exótica Índia Potira , que se apaixonou por um bandido e foi presa três vezes, uma delas sob a acusação de comandar a fuga de 11 detentos.
De uma forma ou de outra, o sonho acabou para todas com a morte do humorista, em 1988. “Continuei na Scala, que era uma casa de shows no Leblon onde eu já dançava, e no Golden Brasil, por nove anos. Fiz shows como dançarina, mas depois parei com tudo porque gostava mesmo era de ser Chacrete, e não de outra coisa. Quando o Chacrinha morreu, morreu tudo ali. Não quis fazer mais nada com relação à dança”, conta Cristal Azul, que hoje tem 46 anos e atende por Cristina. “Chacrinha era um paizão. Dava conselhos, broncas, cuidava mesmo da gente. Minhas lembranças dele são as melhores possíveis”, diz ela. “Sou muito saudosista, tenho saudades de chegar às 10h30 na Globo, ensaiar até meio-dia, almoçar, ir para o show, depois viajar… Uma correria gostosa.”
A ex-chacrete Regina Polivalente (que hoje responde por Regina Magalhães ) contou ao iG que passou dificuldade após o programa, mas que tem muito orgulho de ter participado da época de ouro da televisão. “Me formei em educação física em 1988, mas não dou mais aula, agora trabalho em uma empresa de eventos no Rio de Janeiro. Trabalhei no Jornal do Brasil, fui secretária executiva, trabalhei até na praia como ambulante quando fiquei desempregada por 7 meses”, contou ela.
Já Mirian Fernandes , ou Mirian Cassino para os fãs, continuou no palco. “Sou professora de dança em academias e personal de ginástica. Continuo dançando, inclusive participo de um grupo que se chama Athletica Cia. de hip hop master e somos tri campeãs sul-americanas. Adoro minha vida, danço e isso me faz feliz. Me casei há 27 anos com o ex-baterista do grupo ‘Absyntho’, Darcy, e tenho uma filha de 24 anos que se chama Mariana”, contou Mirian.
Compare na galeria acima as fotos dessas mulheres na época áurea das Chacretes e agora, e veja por onde andam essas dançarinas que compunham o cenário do programa mais anárquico que já se viu.
IG
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