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WEB RÁDIO

20 de julho de 2011

PAIXÃO DE CRISTO



José Augusto Longo da Silva

Quando não havia nem mesmo gravadores, a Rádio Espinharas, então dirigida por Maurício Leite (aquele mesmo que foi deputado e depois como suplente de senador biônico passou alguns dias no Senado) nós fazíamos um rádio atrevido. Mesmo sem recursos técnicos a equipe comandada por Severino Quirino fazia de tudo, até mesmo dramatizações. Paulo Lacerda, hoje médico e funcionário aposentado do Banco do Brasil, transformava as revistas Capricho e Sétimo Céu em radio-teatro, enquanto que Quirino escrevia contos(mais copiava dos outros do que escrevia) e, como havia poucos funcionários com capacidade interpretativa, importavam-se pessoas da sociedade que juntas formavam o cast da emissora.
Em determinada Semana Santa o bom e católico Quirino cismou em dramatizar a bíblia para apresentar na Sexta Feira Maior. Foram dias e dias de ensaios. Tinha-se que ensaiar porque o programa teria que ser apresentado ao vivo. Nos ensaios, tudo bem. Professor Oliveira, Emília, Evane, Guigui, Seu Zé Soares da Livraria, Gegê, dentre outros convidados, mais os funcionários da casa, todos ansiavam pela hora da apresentação onde a cidade inteira estaria pronta e atenta para ouvir. Era, de fato, uma grande expectativa,
E eis que chega o esperado momento. Cabine pequena, um só microfone, calor de sessenta graus e Orlando Xavier afiado, na sonoplastia. Para alguns, tudo normal; para outros, o nervosismo, os nervos à flor da pele. Um dos mais ansiosos era Batista Leitão, decano da radiofonia patoense, o apresentador do célebre “Forró do Pé Rapado”, falecido anos atrás.
Num dos diálogos, Jesus aparecia diante da multidão e, de acordo com o roteiro, Orlando atacou de zoada, de gente sussurrando.
Dentre aqueles que esperavam pelo Cristo, segundo Quirino, encontrava-se um cego, que como tal, estranhou aquela confusão.
Seu Zé Soares, que fazia o papel do cego, perguntou:
- Que vozerio é esse, meu irmão?
No que Batista, nervoso, respondeu:
- É Jesus. Ceeguinho!
Trocou a virgula pelo ponto, e cegou o Homem.

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