Ariano Villar Suassuna, oitavo dos nove filhos do casal João Urbano Pessoa de Vasconcellos Suassuna e Rita de Cássia Dantas Villar. Nasceu a 16 de junho de 1927, na cidade da Paraíba, capital do estado do mesmo nome. Nasceu no Palácio da Redenção, sede do Governo estadual, pois seu pai exercia à época, um mandato de “Presidente”, o que correspondia ao atual cargo de Governador do Estado. Ariano viveu seus primeiros anos no Sítio Acauhan, no município de Sousa, no sertão do estado.
OS ANOS DE DESASSOSSEGO
Aos três anos de idade, em 1930, Ariano passou por um dos momentos mais complicados de sua vida com o assassinato de seu pai, no Rio de Janeiro, por motivos políticos, durante a Revolução de 1930, o que obrigou sua mãe, Rita de Cássia Vilar Suassuna, a levar toda a família a morar na cidade de Taperoá, no Cariri paraibano.
O acontecimento levou sua família a fazer várias peregrinações para diferentes cidades, a fim de fugir das represálias dos grupos políticos opositores ao seu falecido pai. De 1933 a 1937, Ariano residiu em Taperoá, onde fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral.
O EXÍLIO NO RECIFE
Em 1942, já adolescente, Ariano Suassuna muda-se para a cidade de Recife, onde passou a residir definitivamente. Posteriormente, Ariano Suassuna concluiu seu estudo superior em Direito (1950) e em Filosofia (1960).
Ariano Suassuna estreou seus dons literários precocemente no dia 7 de outubro de 1945, quando o seu poema Noturno foi publicado em destaque no Jornal do Comércio do Recife. Na Faculdade de Direito, conheceu Hermilo Borba Filho, com quem fundou o Teatro do Estudante de Pernanbuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou o Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Seguiram-se Auto de João da Cruz, de 1950, que recebeu o Prêmio Martins Pena, o aclamado Auto da Compadecida, de 1955, O Santo e a Porca – O Casamento Suspeitoso, de 1957, A Pena e a Lei, de 1959.
TAPEROÁ A ALDEIA E O MUNDO
Entre 1951 e 1952, volta a Taperoá, para curar-se de uma doença pulmonar. Lá escreveu e montou “Torturas de um coração”. Em seguida, retorna a Recife, onde, até 1956, dedica-se à advocacia e ao teatro. Em 1955, “Auto da Compadecida” o projetou em todo o país. Em 1962, o crítico teatral Sàbato Magaldi diria que a peça é: “O texto mais popular do moderno teatro brasileiro”. Sua obra mais conhecida, já foi montada exaustivamente por grupos de todo o país, além de ter sido adaptada para a televisão e para o cinema.
Em 1956, afasta-se da advocacia e se torna professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco, onde se aposentaria em 1994. Em 1976, defende sua tese de livre-docência, intitulada “A Onça Castanha e a Ilha Brasil: uma reflexão sobre a cultura brasileira”.
Ariano continua morando em Recife, tendo exercido por várias vezes o cargo de Secretário de Cultura do Governo do Estado, nos Governos Arrais e Eduardo Campos. É um dos poucos brasileiros que ocupa quatro academias de Letras (Brasileira, Pernambucana, Paraibana e de Taperoá). Ariano Suassuna, filho de Pais sertanejos (sua mãe era Paraibana de Desterro, então vilarejo do município de Teixeira), muito cedo foi impelido a desfazer essa espécie de equívoco biográfico que foi seu nascimento próximo ao mar, trocando o ar fresco e o chão úmido do litoral pelo ar quente e seco, pela terra dura, áspera e pedregosa.
Falar de Ariano Suassuna neste momento em que o Brasil todo celebra os seus tão bem vividos 84 anos, é chover no molhado. Quero neste instante, pedir licença aos senhores e senhoras e em especial ao nosso homenageado, para falar um pouco da história de outro paraibano ilustre, tão importante, por ter sido o principal responsável pela existência do nosso querido Ariano. Quero me reportar a história de João Urbano de Vasconcellos Suassuna, o nosso presidente João Suassuna – pai do mestre Ariano.
JOÃO O PRESIDENTE E A REVOLUÇÃO DE 30
O pai de Ariano, João Urbano Pessoa de Vasconcellos Suassuna, nasceu em 1886, em Catolé do Rocha. Governou o estado da Paraíba de 1924 a 1928. Assumiu o governo relativamente moço, aos 38 anos de idade, mas com uma larga experiência na vida pública. Antes de ser Presidente, trabalhara como advogado em Mossoró, no Rio Grande do Norte, e Juiz, nas cidades Paraibanas de Umbuzeiro, Campina Grande e Monteiro. Fora Procurador da Fazenda Nacional do Estado da Paraíba e chegara a ocupar cargos importantes durante os governos de Antônio Pessoa e Sólon de Lucena. Quando eleito para presidência (atual governador), sucedendo Sólon de Lucena, exercia mandato de Deputado Federal.
Bacharel em Direito, formado pela Faculdade de Direito do Recife, homem extremamente culto, exímio orador, admirador de Euclides da Cunha, versado em Literatura e Sociologia. João Suassuna revelou-se também como administrador, realizando uma administração incomum para o seu tempo.
PRESIDENTE JOÃO SUASSUNA NO COMBATE A LAMPIÃO
Procurando atuar sobre o Estado como um todo, estendeu as ações governamentais para os municípios mais distantes da capital, secularmente abandonados. No sertão, a população sofria com as incursões dos cangaceiros, problema comum a quase todos os estados nordestinos. Com a prisão de Antônio Silvino, 1918, o problema assume uma dimensão maior ainda, passando a chamar-se Lampião.
Chefe de bando desde 1922, Lampião representava um constante desafio a toda e qualquer autoridade constituída. Foi então que João Suassuna deflagrou uma verdadeira campanha contra o banditismo, se não para erradicá-lo, ao menos para afastá-lo do seu Estado. Sua estratégia de luta não se restringiu apenas à criação de tropas especiais, “fora de linha”, com objetivo especifico de perseguir os cangaceiros. Percebendo que para melhor combater Lampião precisava conhecê-lo bem, encomendou ao jornalista Erico de Almeida um estudo o mais completo possível sobre o já famoso bandoleiro, estudo que publicado em 1926, veio a se transformar na primeira biografia erudita do Rei do Cangaço.
Os esforços de João Suassuna não foram em vão: depois do primeiro entrevero com as tropas do governo, e ciente do empenho do Presidente em combatê-lo, Lampião passou a evitar as terras Paraibanas.
JOÃO SUASSUNA O ARTISTA
Sertanejo de nascimento e de coração, entusiasta das manifestações artísticas populares, notadamente aquelas ligadas ao Romanceiro Popular Nordestino, tocador de viola e contador de histórias, João Suassuna jamais se deixou fascinar pela cidade grande, morando na capital meio a contragosto.
Afastado do Sertão sentia-se dominado por uma nostalgia profunda e inconsolável. Para apaziguá-la, tinha o costume de promover, no Palácio do Governo, encontros de violeiros que se estendiam noite a dentro em desafios e pelejas. Esses encontros não deixavam de chocar uma porção de gente. Por outro lado, fizeram de João Suassuna, uma espécie de precursor dos modernos festivais de cantoria freqüentes nas capitais nordestinas a partir da década de quarenta.
Terminando seu mandato, João Suassuna volta ao seu lugar de origem, o sertão, terra apocalíptica que amava doidamente como ele mesmo dizia. É então que vai se fixar em uma de suas fazendas: a “Acauhan”. Localizada no município de Sousa no alto sertão Paraibano.
A MORTE TRÁGICA DE JOÃO SUASSUNA
Fim trágico aconteceu também ao pai do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, o Presidente João Suassuna quando foi morto com um tiro pelas costas, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 09 de outubro, há exatamente 81 anos atrás, em represália pela morte de João Pessoa.
Segundo Domingos Meireles em seu livro “1930 - Os Órfãos da Revolução”: “Suassuna sabia que pretendiam matá-lo. Num inquérito instaurado no Recife para apurar a morte de João Pessoa, fora indiciado como cúmplice”. Como João Suassuna, na época de sua morte, exercia o mandato de Deputado Federal, gozava de imunidade Parlamentar e só deveria ser julgado com licença da Câmara Federal. Segundo ainda Meireles “Mesmo diante da campanha promovida pela imprensa, a Câmara negou o pedido da Justiça, livrando-o do processo”. Como a decisão fora recente, não retornou logo a Paraíba para evitar provocações. A verdade é que João Suassuna nada tinha a ver com o assassinado do Presidente da Paraíba.
O deputado João Suassuna, às 8 h. da manha, resolvera voltar ao Hotel Belo Horizonte, onde morava, para pegar uma capa, já que ameaçava chover. No caminho, encontrou-se com seu amigo e conterrâneo Caio Gusmão. Os dois perceberam que um estranho os seguia. Em determinado momento ouviu-se apenas o estampido seco dos disparos.
Segundo ainda Meireles, João Suassuna “ao ser atingido pelas costas ainda sacou seu revolver e perseguiu o assassino de arma em punho, mas, ao atravessar a rua, as pernas se dobraram e ele tombou sem vida sobre a calçada”.
Na véspera de ser assassinado, João Suassuna escreveu à mulher Ritinha e, sob forte emoção, falou do pressentimento de que talvez não voltassem a se encontrar. Assim escreveu; “se eu desaparecer e não nos virmos mais neste mundo de tristezas e dores pingentes, pode você assegurar aos nossos adoráveis filhos que sou inocente na morte de João Pessoa(“). A todos os nosso parentes e amigos leais, deve você minha amada mulher dar essas minhas declarações, caso venha a perecer como é possível, para que nenhum tenha a mais ligeira dúvida sobre a minha inocência”.
D. Ritinha só tomou conhecimento da tragédia um dia depois, através do jornal “Correio da Manhã”, editado por Carlos de Lima Cavalcante em Recife. Impossível descrever o quadro de desolação que se abateu sobre ela e os seus filhos, que nem se quer tiveram como ver o esquife do marido e tão pouco assistir os funerais no Rio de Janeiro. A última vez que o viram vivo foi quando Suassuna embarcou de navio para o Rio de Janeiro no dia 24 de setembro de 1930.
João Suassuna era inteligente e culto. Tocava Violão, cantava e compunha versos. Segundo seus amigos, Suassuna tinha um bom humor permanente, possuía talento, veia poética, oratória imaginosa, cultura, memória invejável, coragem leonina e conversa amabilíssima.
Foi graças a ele que João Pessoa se tornou Governador, quando cedeu a secessão natural de Júlio Lira, abrindo a vaga e dando-lhe o comando do partido. Por ironia do destino, foi morto covardemente pelas costas, na Rua do Riachuelo no dia 09 de outubro 1930, no Rio de Janeiro, por correligionários de João Pessoa, deixando nove filhos, o mais velho com 15 anos e a mais nova com apenas 1 ano. O nosso homenageado, Ariano Suassuna, com pouco mais de 3 anos apenas de idade.
JOÃO SUASSUNA, O INCOMPREENDIDO
Expressão usada na publicação de um texto do jornalista e escritor, Teócrito Leal, em abril de 2009, no Jornal Correio da Paraíba.
Vejamos alguns trechos, da última carta do então Deputado Federal e ex-Presidente João Suassuna, encontrada pela polícia no bolso e escrita a 8 de outubro de 1930, dirigida a sua esposa Ritinha. Portanto, um dia anterior da sua morte.
O escritor Humberto Mello, em trabalho para a Revista do IHGP em 1986, relata impressão do escritor Gilberto Amado, companheiro na Faculdade do Recife, e, mais tarde, seu colega na Câmara dos Deputados, sobre João Suassuna: “... era um telúrico. Bastava olhá-lo para concluir-se que ali estava um pedaço da terra feito homem”.
Mas o que desejo é divulgar, pelo menos em parte, a ultima carta de Suassuna, escrita a 8 de outubro de 1930 e dirigida a sua esposa Ritinha, que se encontrava em Paulista, no estado de Pernambuco. Essa carta foi encontrada pela Policia do Rio no bolso do morto, e permaneceu inédita por muito tempo, tendo sido divulgada na integra pelo escritor Apolônio Zenaide, em seu trabalho “História Republicana da Paraíba”.
O ex-presidente paraibano revela à esposa seus anseios e dúvidas sobre o seu futuro, dizendo não saber “que destino nos esteja afinal reservado, nesta fase extrema e gravíssima da vida nacional; posso também desaparecer na voragem, sem vê-la mais, aos filhos, minha mãe, irmãos, cunhados, sobrinhos e amigos, disto tenho verdadeiro pressentimento”.
Em outra parte da carta, o ex-presidente alerta para o fato de: “se me tirarem a vida os parentes do presidente João Pessoa, saibam todos os nossos que foi clamorosa a injustiça – eu não sou responsável de qualquer forma pela morte, nem de pessoa alguma neste mundo, não alimentem, apesar disso, a idéia ou sentimento de vingança contra ninguém. Não se façam criminosos por minha causa!”.
Na parte final da carta à esposa, ele informa: “Você sabe também como fui infenso a essa política de iras e ofensas, sofrendo calado toda espécie de agravo, para não revidar, pois estava prevendo a que extremos perigosos ia chegar a exaltação reinante. Refiro-me à luta política, porque já estávamos humilhados demais. Conhece, porem você, como hesitei diante da impaciência e pareceres pelo rompimento realizado de tantos amigos. Só quero que me façam justiça não carreguem a culpa que, de fato não me cabe. Posso ter errado, mas não pequei ou delinqui, conscientemente”.
É ainda Humberto Mello quem revela a cultura humanística, dos dons de orador, das riquezas das exposições, orais ou escritas de João Suassuna, Celso Mariz, Álvaro de Carvalho, Alcides Bezerra, Solon de Lucena e tantos outros mais. Afirmam sempre ser João Suassuna destacado entre os melhores oradores da época e que os melhores discursos eram sempre do ex-presidente paraibano.
O paraibano e também governador Oswaldo Trigueiro destacava João Suassuna entre os melhores da bancada epitacista na Câmara e afirmava: “Pelos predicados de inteligência, podia ter tido êxito em qualquer atividade. Possuía condições para ser grande advogado ou brilhante professor de direito”.
João Suassuna era um moderado e entrou inicialmente à cisão política da Paraíba, e, depois, à luta armada. Instalada a luta, procurou por todos os meios contê-la, mas os ânimos acirrados da época não estavam para diálogos, predominando a vontade dos radicais e o resultado foi um Estado dividido e a morte de dois grandes lideres: João Pessoa e João Suassuna.
Essa é uma prova de reconhecimento do povo paraibano pelo que representa o trabalho do escritor Ariano não só para a Paraíba, como também para o Brasil, ao escritor que nos brinda com suas obras, de fundamental importância para a preservação da cultura popular nordestina.
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