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20 de julho de 2011

O adeus do mestre Artur Virginio de Moura









A lembrança que fica comigo do desembargador Artur Moura é a do professor que se emocionava diante de uma redação bonita e dava a nota ao aluno sem carecer de pesquisas rebuscadas em códigos e compêndios. Fui seu aluno na Faculdade de Direito e de lá até hoje conservei a imagem do mestre de coração enorme, um sorriso compreensivo a enfeitar a calma que foi sua vida inteira, o homem reto, que, como juiz, jamais teve crises de "juizite". Ao contrário, dava-se bem com a magistratura, mas não escondia a admiração pelo que é belo. No registro de sua morte, do seu adeus, transcrevo o belo poema de Ronaldo Cunha Lima dirigido ao então juiz de Direito da 2ª Vara de Campina, Artur Virginio de Moura, no sentido de liberar um violão apreendido por quem não gostava de serenatas, vindo logo em seguida, também em verso, o deferimento ao pedido de habeas-corpus que no caso se chamou habeas-pinho:

“HABEAS PINHO”

O instrumento do crime que se arrola
Neste processo de contravenção
Não é faca, revólver, nem pistola.
É simplesmente, doutor, um violão.

Um violão, doutor, que na verdade,
Não matou nem feriu um cidadão.
Feriu, si, a sensibilidade
De quem ouviu vibrar na solidão.

O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade,
O crime a ele nunca se mistura,
Inexiste entre ambos afinidade.

O violão é próprio dos cantores,
Dos menestréis de alma enternecida,
Que cantam as mágoas que povoam a vida
E sufocam as suas próprias dores.

O violão é música, é canção,
É sentimento, vida e alegria,
É pureza, é nectar que extasia,
É adorno espiritual do coração.

Seu viver, como o nosso, é transitório;
Mas, seu destino não, se perpetua,
Ele nasceu para cantar na rua
E não pra ser arquivo de cartório.

Mande soltá-lo pelo amor da noite,
Que se sente vazia em suas horas,
Pra que volte a sentir o terno açoite
De suas cordas leves e sonoras.

Libere o violão, Dr. Juiz,
Em nome da justiça e do Direito.
É crime, porventura, o infeliz
Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

Será crime e, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
Perambular na rua um desgraçado,
Derramando na praça as suas dores?

É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza de seu acolhimento.
Juntada desta aos auto, nós pedimos
E pedimos também deferimento.

O juiz, Dr. Artur Moura, sensibilizado, deferiu a petição do poeta no mesmo tom:

Para que eu não carregue
Remorso no coração,
Determino que se entregue
Ao seu dono o violão.

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