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WEB RÁDIO

26 de novembro de 2009

FEIRA DE CARUARU - UM PATRIMÔNIO DO BRASIL







A feira livre é um espaço público de integração social, que acontece nas comunidades e praticam um comércio voltado a venda de produtos frescos (verduras, frutas, carnes, goma, etc) aos moradores da localidade onde semanalmente existe.

Pelo Brasil afora não é comum que artistas participem das feiras livres. Não parece, em princípio, ser ali um espaço também destinado à apresentação e venda de produtos artísticos e artesanais. Mas, como o comércio que se estabelece é operado por seus próprios donos, nada impede que artistas e artesãos considerem aquele lugar também como uma “vitrine” para mostrar – e vender - a sua Arte.

Em Pernambuco uma feira quebrou essa quase certeza, começando de forma singela e despretensiosa, tornando-se, com o tempo, uma referência tão grande que foi tombada como “Patrimônio Imaterial Brasileiro”. Estamos falamos da FEIRA DE CARUARU, no agreste do Estado,

Caruaru, no início do séc. XVIII, era uma fazenda de gado, ponto de apoio aos viajantes que passavam rumo ao sertão... Junto à pequena capela de Nossa Senhora da Conceição, aos domingos, juntavam-se os moradores e eventuais visitantes, para rezar e trocar mercadorias entre si e com outros comerciantes de fora. Foi essa a origem da grande feira que hoje atrai multidões, que dura a semana inteira e que foi crescendo, devagarzinho, diversificando seus produtos pouco a pouco.

Vendia-se de tudo: frutas, hortaliças, cereais, carne de boi e de bode, rapadura, artesanato, utensílios populares, roupas, calçados, chapéus, bijuteria...No começo, quase sempre não era “dinheiro” a moeda de “troca” mas a própria possibilidade de barganhar um bem por outro bem. E o crescimento desse comércio informal foi ganhando uma força tão grande que os pesquisadores afirmam: “Caruaru nasceu da Feira, e com a Feira: são inseparáveis”. E a voz do povo repete: “A Feira é de Caruaru e Caruaru vive para e em função de sua Feira”. Isso foi assim no passado e o é até hoje.

Cantadores de cordel vieram caminhar pela Feira, improvisando versos. O compositor da cidade, Onildo Almeida, numa procura inusitada identificou todos os produtos à venda com terminação em “u” e compôs a deliciosa canção “Feira de Caruaru”, com rimas no mínimo curiosas “Tem massa de mandioca, batata assada, tem ovo cru. Banana, laranja e manga, batata-doce, queijo e caju”, canção essa imortalizada em disco pelo grande Luiz – Lua – Gonzaga... Outras canções, outros escritos foram registrando esse saber popular, a começar pela descoberta do Mestre Vitalino e seus seguidores, diversificando a feira de tal forma que tornou-se foco do levantamento primoroso elaborado pelos alunos e técnicos da UFPE (Janine, Jacira, Bárbara, João Paulo, Carlos Frederico, Felipe – fotógrafo e cinegrafista/, e o arquiteto Gustavo,) coordenados pelo Doutor em Antropologia, Bartolomeu (Frei Tito) Figueiroa de Medeiros, sob a supervisão da 5ª Superintendência Regional do IPHAN, com sede em Pernambuco, através dês suas entusiastas pesquisadoras Mabel Baptista e Graça Villas.

Foram inúmeras as viagens a Caruaru, para as entrevistas, o preenchimento de fichas, as gravações, as fotos recolhidas. O dossiê tomou forma, foi discutido, recebeu importantes inserções da bibliografia existente, em especial a excepcional obra do mestre Nelson Barbalho, que debruçou-se sobre a vida e a história caruaruense, eternizado-SE nas publicações feitas pelo Centro de Estudos de História Municipal, um órgão completamente voltado para o resgate de cada município pelo saber e pelo amor de seus historiadores.

E o resultado não podia ser outro. Nacionalmente, em janeiro de 2007, a FEIRA DE CARUARU foi considerada PATRIMÔNIO IMATERIAL, o segundo título dessa natureza concedido a um reconhecido bem intangível no País. Tombava-se o saber popular, a permanência de uma forma singular de proceder, um conjunto de tradições merecedoras de reconhecimento e valorização, todas ocorridas em um lugar delimitado, pleno de vida! .

Suas muitas “feiras” contidas numa só hoje estão protegidas... A “Feira das Frutas e Verduras”; a “Feira de Raízes e Ervas Medicinais”; a “Feira doTroca-Troca”; a “Feira de Flores e Plantas Ornamentais”; a “Feira do Couro (calçados, chapéus, bolsas...)”; a “Feira Permanente de Confecções Populares /“Feira de Roupas”; a “Feira dos Bolos, seção de Goma e Doces”; a Feira das Ferragens”: a “Feira de Artigos de Cama, Mesa e Banho”; a “Feira das Galinhas”; a “Feira do Fumo“: a “Feira dos Importados”; a “Feira do Artesanato”; a “Feira da Sulanca” e a “Feira do Gado”. Todas continuarão sua ascensão, enchendo Caruaru de gente, de sons, de orgulho, de crescimento e de modelo a ser seguido...

E isso só acontece quando há a Verdade no que se faz, no que se acredita, no que se propaga como saber para as gerações futuras. E é isso que apregoa a imortal melodia de Onildo Almeida:


“A feira de Caruaru
Faz gosto a gente ver
De tudo que há no mundo
Nela tem prá vender
Na feira de Caruaru
I
Tem massa de mandioca
Batata assada, tem ovo cru
Banana, laranja e manga
Batata-doce, queijo e caju
Cenoura, jabuticaba,
Guiné, galinha, pato e peru
Tem bode, carneiro e porco
E se duvidar inté cururu

II
Tem cesto, balaio, corda
Tamanco, gréia, tem tatu
Tem fumo, tem tabaqueiro,
Tem peixeira e tem boi zebu
Caneco, alcoviteiro,
Peneira boa e mel de uruçu
Tem calça de arvorada
Que é prá matuto não andá nu
III
Tem rede, tem baleeira
Móde menino caçá lambu
Maxixe, cebola verde,
Tomate. coentro, couve e chuchu
Almoço feito na corda
Pirão mexido que nem angu,
Mobia de tamborete,
Feita tronco de mulungu

IV
Tem louça, te ferro velho,
Sorvete de raspa que faz jaú
Gelado caldo de cana,
Planta de palma e mandacaru
Boneco de Vitalino, que são
Conhecido inté no Sul
De tudo que há no mundo
Tem na feira de Caruaru.”

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2 comentários:

Rosa Regis do Cordel disse...
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